domingo, 23 de janeiro de 2011

2, 1000 e 10

Assim foi 2010:
espantado, corrido
o tempo passando dolorido
no peito de quem amou.
Pouco se amou em 2010 -
mas ninguém reclamou
do pão, da carne
da prestação do imóvel
impróprio para habitação
e aumentou a drummoniana fila do feijão
enquanto vinha nova informação
intumescendo 2010
ano que pachorrentamente
deglutia 2009
sua crise, sua gripe
sua morte da estrela
e a unidade numérica
pobre um
se sentia magra
exígua virgular
interrompendo a oratória penetrante
do olhar
que formavam os zeros inquietantes
na conta bancária
milionária
da high-perdulária em 2009.

2010 rimou com desilusão
poço sem fundo
gosto de derrota
na copa do mundo.
E seguindo o fluxo
mercantil
disseram avante, Brasil
e 2010 atravessou
com cheiro de casa nova
dos programas de habitação
moradia, meu irmão
temos teto
temos chão
e o Brasil é maravilhoso porque não tem terremoto.

Em 2010 saiu do ar
poluído, acrise ecológica
e saiu para dar lugar
à violência patológica
ao assassinato da mulher
do jogador
do clube de futebol
e dos novos ricos.
A publicidade
sem muito esforço
mostrou-nos novamente belo corpo -
o corpo ainda não foi encontrado.
A imprensa, mais em 2010
em seu poder refratário,
usando de imbatível retórica
meteu-se a judiciário
e não bastasse o criminal
palpitou na zona eleitoral
com seu ar sempre jurídico
grave
circunspecto comedido
com argumento de autoridade
(ou autoritário
sensacionalista panfletário).
 E 2010 já respirava cansado
quando soaram
as trombetas da cidadania
convocando o jogo democrático
e na feira da democracia
houve a surpresa da verdura
embora pareça sem cura
(ao menos para as donas de casa que fizeram o Normal)
esse amontoado de horrores
que são os fornecedores:
cultivam a mesma espécie
e disfarçam com facetas várias
o que foi plantado nas mesmas terras
latifundiárias -
mas não tem problema 
se faltou arroz no Natal
em Copacabana
houve fogos, foi sensacional
que beleza ficou o céu
acima do Palace Hotel
decretando: continuará em janeiro
sendo este o Rio verdadeiro.
E façamos jus ao carnaval
que marcará 2011,
seu ponto inicial
e apesar das unidades com fome
no fim do numeral
tenhamos esperanças
um pé atrás
e nas mãos desconfianças.
E para elas há motivos, não há?
Ora, minha gente,
vamos combinar
2010 foi deprimente
de uma tristeza crepuscular.
Vinícius Sado Rodrigues
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário