domingo, 9 de janeiro de 2011

A Fraternidade é Vermelho Fogo

Levantou cedo e tomou banho e café. Ela o ajudou. Ela sempre o ajudava, talvez por remorso ou compaixão. Talvez por amor. Mas naquele dia não poderia ir com ele até o serviço. Ela, geralmente, o acompanhava no ônibus e o deixava no serviço, prestativa que era. De lá atravessava dois quarteirões e punha-se a trabalhar.
Aquele dia ele foi sozinho até o ponto-de-ônibus. Morar no “nem” lhe impunha algumas dificuldades a mais, um plus na invalidez. Buracos, britas, descidas, nem vestígio de rampa. Não que tenha sido um esforço colossal, mas, com certeza, um pouco cansativo. Parando duas vezes no meio do caminho, terminou a via sacra e, enfim, chegara ao match point.
A tarde estava ensolarada. Naquele “buraco” os pontos não tinham proteção e nem bancos. Apenas uma placa, também no meio do nada, sinalizava o abatedouro. 5 minutos. Um ônibus passou. Não era o dele. 10 minutos. Outros dois ônibus passaram. O seu ônibus estava demorando. 30 minutos. Há meia hora estava com um sol de rachar em seu rosto.
35 minutos. Uma moça, jovem, bonita, chega ao ponto. Puxa assunto, pergunta a respeito do ônibus. Esperavam o mesmo. Ele disse que, provavelmente, aconteceu algo, pois já estava lá a mais de trinta minutos. Continuaram conversando, guiando o papo pela inconformidade com o serviço de transporte coletivo, o desrrespeito dos usuários e a falta de fraternidade entre as pessoas. Ela disse que já estava atrasada e que não poderia faltar a um importante compromisso. E o ônibus não chegava.
O ônibus, enfim, se mostrou no horizonte. A moça entrou. O cadeirante pediu ao motorista que lhe ajudasse a subir. O motorista fechou a porta e seguiu viagem. A moça pediu a ele que deixasse o cadeirante entrar. O sujeito lhe disse que o ônibus estava com a porta principal emperrada, por isso já havia se atrasado e estava com seu horário comprometido. A moça seguiu viagem.
O cadeirante pôs-se a esperar, de novo. Algumas gotas começaram a cair. Logo uma verdadeira tempestade já se formava. Vovó já dizia: tarde muito quente é sinal de chuva em seguida.


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